sábado, 12 de maio de 2012

Fruto




Mães têm o dom de alfinetar a verdade com doçuras enlaçadas na carne,
Deixam o por do sol como um amanhecer,
Quieto,
Falam de flores e plantações como se vivessem para isso,
E vivem,
Plantam sentimentos em corações filiais,
Plantam amadurecimento,
Condicionamento de realidade,
Ensinam a maior das artes,
A arte de ser...

Mães possuem uma poesia entranhada no amanhecer,
Café da manhã na cama é rotina de mãe feliz,
Como assoprar sopa quente,
Possuem também o som do ninar,
Cantam canções élficas em seu estandarte de acalantos...

Mães são deusas do adolescer,
Procuram brigar e magoar bem, para que o seu fruto cresça calejado,
Dizem todo não possível, para que assim todo sim seja respeitado,
Escrevem com chinelas, cintos, colheres de pau e palavras de decepção,
A triste e doce historia do ensinar,
Cativam todo ser...

Mãe sem filho é como dor de parto ao contrario,
É perder o sentimento de ninar e todas as minhas trovações,
Mãe de filho que vai passear e não volta,
Deve ser igual ser mãe da sua sombra,
Tem que cuidar de alguém, mesmo que seja a própria...

Mãe é jovem aprendiz de ser adulto,
Mais aprende do que ensina,
E como num poder sútil,
Cresce e vira avó que é o dobro de mãe,
É quase um desatino de tanto amor...

Todo dia é dia de mãe,
Todo dia ela bate, grita, se estressa, reclama da toalha...
Todo dia ela repete os mesmos ensinamentos de mais de vinte anos atrás,
E todo dia eu finjo que não escuto, pra poder continuar ouvindo...

Por que acreditem vocês ou não,
Maior tristeza de filho,
É não ter mãe ninando...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Identidade




Doçura é abrir os olhos ao meio dia,
Perceber que meio dia já passou,
E a outra metade ainda tem muito que contar...
Pegar carona nos confetes,
Disparar gritarias para quem merece e não merece,

Nostalgia é se embalar na rede durante a chuva,
Sentir o cheiro do asfalto molhado,
E se perguntar por onde andam seus amigos de infância,

Nostálgico é lembrar,
Deduzir o passado,
Reescrever o momento e as emoções,

Eu traduzo lembranças,
Transformo em carências,
E choro,

De alegrias ou de tristezas, o que importar é se deixar lavar pelo mar interno,
Deixar a sujeita sentimental sair,
Limpar a mente...

Deixar vazio pra que somente o que é puro se nutra,
Deixar em quietude o que antes era maré alta,
Adormecer...

Se aquietar,
Deixar o corpo suspirar outros ares,
Como um desmame,
Deixar acontecer...

É diluvio de palavra,
Apedrejar as crenças com o dom de se descobrir,
Deixar a sua criança interna se mimar...

Eu canto versos de quem há um ano atras escreveu dedicatória aqui,
Aqui no espaço aberto eu relembro a desenvoltura,
O sotaque amarrado de quem quer conquistar,

Aqui eu descobri mais de um amor,
Uma dona do mundo,
Uma flor com ideias enroladas,
Uma que falou de ser infinito,
Uma que foi pra ela,

Nunca fui vazio de amor,
A dor pode me marcar o quanto for,
Pode escrever no meu peito,
Pode até me fazer um homem menos afim..

Mais nunca vou me queixar de falta de paixão,
Poeta, Artista, Lutador, Louco, Curador, Médium, Boêmio, Amigo...
Eu,
Sou,
Mais,
Amor,
Do,
Que,
Palavra,
E ainda tenho muita coisa pra escrever...


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Idéia




Quem bate na porta das idéias e sai correndo,
É o que os avós chamam de Traquinas, Pentelho, Crionça..
É delicioso se afundar em um pote de biscoito de vó, tapioca com manteiga e café com leite adocicado,
Colo de mãe tem sabor de viajem pra fora de si,
Eu sou viajante de meus portos mentais!
Contando mais de mil vezes a mesma piada, sobre um papagaio judeu...
Quão sereno é o seu dia quando você se olha no espelho?
Ou quando seu coração parece querer brincar de pira-se-esconde?
Ou no minimo seu corpo levita por alguns segundos?
O quanto mais é possível dilatar a poesia?
O segredo é escrever de tudo!
Até sangrar o papel!


Não de dor,
Poesia, mesmo triste, nunca é dor,
É infância traduzida,
É doçura em ponta de lápis,
Eu adoço papeis com historias minimalistas,
Conto as desgraças da minha vida ainda juvenil, com ar de quem já viveu o infinito,
Despejo a dor de ser humano e passível de misericórdias em todos que leem minhas soberbas,
Entrelaço as idéias de tal forma que consigo vestir elas em uma folha de papel,
Roupa de criança apertada!
No mesmo sotaque falado, eu escrevo meus desesperos e minhas patetices,
Idéias de ser um joão ninguém,
Tem gente que se encanta com o que é normal,
Com o que é mundano,
Eu me encanto com olhares, cabelos, sorrisos, falas sutis e perfume,
Me encanto com cantos, letras que fazem sentido, sentimento...
Escrever pra mim é como ser o bobo da corte,
Tem seu fim,
Fundamento,
Lei de fazer sorrir e lagrimar,
Escrever é ter em si, o antro do que está dentro,
Palpita na mão, 
É inaugural sentir a coisa fluir,
As letras saírem de forma natural, sem esforço,
Apenas virem do plano ideal, ao plano real,
Sem mais demandas, sem suor, ou cara feia,
Apenas flui,
Se processa dentro da criança interna,
E do nada se expõe como ferida aberta,
Mas sem o choro...
Escrever é aquecer a vontade,
Nutrir o papel de coisas consensuais,
É abastecer o mundo de coisas que alguem já pensou também,
Mas que por algum motivo, especialmente próprio,
E que de forma alguma merece julgamento ou crítica,
Deixou passar e continuou dormindo.



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Se é do coração







Dadas as circunstancias vou escrever pra alguém chamado todo mundo,
Declarar as dores cansadas de quem um dia se desviou do caminho, por que queria revolucionar seu dia,
Eu sou todo amor! Mesmo que com dor, Amor !
Uma rede de colisões que se entrelaçam dentro da minha caixola,
Ideias do que ser daqui pra frente,
Encarar a mudança como algo que não deveria ter acontecido, mas que talvez a gente tivesse deixado de ver por cegueira noturna,
É um deleite juvenil!
Eu sou eternamente rebelde,
Raspo a cabeça, grito ao mundo quem sou e choro por saudade, e dai?
A rebeldia não está no ato, mas no contato, no tato, nos fatos!
Quem não chora?
Até o céu chora! De forma até depressiva as vezes...
Então só por hoje, amanhã e talvez depois...
Então, até que eu me sinta aterrado e enraizado...
Deixa eu brinca de ser céu.