sexta-feira, 7 de maio de 2010

A senhora do tempo


A senhora do tempo dormiu como se não houvesse hora,
como se o tempo e a falta dele fossem apenas um único tecido,
em uma rede de ilusões brincalhonas vivenciadas no dia-a-dia.
Todo o deserto, o medo e os sinônimos perdem o sentindo de uma hora pra outra,
e em um silencio quase cômico, ela vai.
Toda ternura de um abraço, de uma historia, de um desejo,
todos os sentidos contidos num silencio, o mar, a religião,
as lembranças do que um dia foi todo seu alicerce tudo adormece em nosso peito,
e ao adormecer, amortece todo o fluxo sanguíneo,
e então uma obra divina acontece:
O peito meio que para reagir ao amortecimento, 
contrai de um jeito ímpar,
nos deixando aptos a chover pelos olhos,
e então sim, toda uma gama de luz, 
pólos despolarizados se amarram em um pendão,
e tudo se volta a um único momento, uma única situação,
todo o corpo se curva em direção as lembranças, 
e tudo que resta é chuva.
A boca de onde saíram inúmeras lembranças,
se cala para começar a ouvir um pouco de sua própria historia,
um pouco de sua própria poesia,
um poucos dos mares adormecidos em plena maré.
Um clarão vocal, sonhos, choros, vozes rocas, 
plenitudes de vontades,alguns desesperados 
para mostrar seu tenor em dó maior,
alguns desesperados para se sufocarem em sua própria dor,
mas no fim todos estão em conexão,
todos os imãs fundamentais se colocam em mesma polaridade,
algo que a ciência ainda não conseguiu provar, algo divino.
Todas as paralelices tolas do mundo se tornam apenas tolas,
tudo que pra nós é útil, por um segundo se torna vago,
e então por uma espécie de aperto,
todos choram ou se alegram com o que há de melhor na senhora do tempo,
com o que, apesar de falecido, ainda está vivo e luminescente
e tudo isso está em apenas uma lagrima.
A senhora do tempo tem o tempo todo nas mãos,
e ela pra poupar tempo, entrega os segundos a terceiros,
e os terceiros aos poetas,
dá historias como se fossem bilhetes para entrar em sua vida,
como se fossem livros a serem devorados pelas mentes mais livres de toda aurora.
Ela conta como dominou seu passado,
mostra medalhas de guerras que não existiram,
canta poesias como se estivera em um teatro,
relembra fatos que foram tristes, com um sorriso em face.
Um sorriso armado como uma faca contra as nossas solidões,
um terno delírio materno de quem será sempre dona de toda a fervura,
de toda asonação, de todo caos, de toda moda e a falta dela,
dona de uma beleza sem palavras,
e dona de todas as palavras que me cativaram 
como a um neto desesperado pra conhecer o mundo,
como se suas palavras lhe fizesse adormecer um aconchego avóterno,
como se toda sua palavra fosse obra de Paulo Coelho,
e toda sua filosofia fosse real e limpa.
Em sua inteira nobreza, o tempo se senta e escuta suas historias,
senta com ela como um amigo prestes a tomar chá.
Ela tem mais doçura que uma nuvem de imaginação,
tem mais poder em mãos que qualquer um possa imaginar,
deixou mais lembranças do que imagina,
tatuou em mim sua historia, 
como se tatuasse seu amor em meu peito,
como se num peito de uma criança houvesse 
tudo que nós pensamos que há,
tudo compacto e organizado, tudo vivo e agitado,
tudo que apenas se acalma com palavras de uma senhora 
sentada em sua cadeira de balanço,
como se não houvesse tempo,
como se tudo se resumisse a isso,
porque tempo ela já teve pra contar tudo 
e apenas ela sabe o quão bom dever ser cair 
e não saber se é de manhã...
Ou de noite.

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